quarta-feira, 13 de abril de 2016

Um dos conceitos mais revolucionários dentro da Quimbanda Brasileira é a forma como concebemos a Força Suprema que rege toda evolução. Esse conceito, apesar de ser formado por gnoses antigas/anciãs, é relativamente novo, pois contraria tudo que foi dito até o presente momento. Isso não significa que se trata de uma invenção desprovida de fundamentação, ao contrário, foi uma adequação diante às revelações advindas através do contato com os espíritos.

Entre os séculos XIV e XVIII, a Igreja Católica (I.C.A.R) exercia o papel de Estado e todas as formas e expressões religiosas contrárias ao catolicismo eram consideradas inimigas. Nesse momento histórico temos a ação direta de uma corrente denominada “Santa Inquisição”. Não vamos nos aprofundar nas ações que sucederam nesse período, haja vista que todos os estudantes devem ter uma compreensão mínima acerca desse assunto, mas foi uma época onde ocorreram perseguições e mortes a todos que portavam livros denominados “Grimoriuns” ou “Livros de Encantamentos”. Destacam-se os seguintes livros:

  • “Grimorium Verum” (Grimório da Verdade);
  • “Clavícula de Salomão”;
  • “Grand GrimoriuManual do Papa Leão” (“Enchiridion Leonis Papae”).

Esses livros fundamentavam a supremacia de Deus, Cristo e dos Santos sobre todas as outras formas espirituais. Nelas destacavam-se as diversas formas de evocar e banir espíritos demoníacos, bem como compreender suas supostas naturezas. Entretanto, mesmo quando o poder do Deus cristão era exaltado sobre as forças demoníacas, os atos de magia cerimonial não eram tolerados pelo clero católico.

Provavelmente, parte dessa carga literária “amaldiçoada” aportou nas terras brasileiras em meados do século XVI. Vindos escondidos através dos padres catequizadores e senhores da alta classe Portuguesa (e Espanhola), tais livros foram instrumentos de manipulação. Os povos nativos, os negros escravizados e os colonizadores receberam até o fim do século XVIII a educação religiosa que abordava as facetas do “Diabo Cristão e suas Hostes” apontada nessas obras de demonologia. Dessa forma, ficou assentado no consciente coletivo (através das piores maneiras) tais informações, além das já enraizadas como a luxúria, maldade, danação e sexo. Os livros inquisitórios eram os aceitos para conduzir os processos de reconhecimento e julgamento dos praticantes de magia. Destacamos a presença do famigerado “Malleus Maleficarum” (O Martelo das Bruxas).

Os grimoriuns traziam em seus conteúdos hierarquias espirituais demoníacas. Para o enredo formador da Quimbanda, o “Grimorium Verum” foi o livro mais ativo, pois a “Triade Negra” descrita (Lúcifer, Beelzebuth e Astaroth) foi adotada como a “Trindade do Oposto” e logo tornou-se referência dentro do culto ao ponto de relacionarem Exus com os demônios listados nessa obra, ou seja, os conceitos deturbados pela crendice medieval foram inseridos na Quimbanda fazendo com que as pessoas cultuassem antigas forças de forma deformada e inconsequente. Lúcifer foi correlacionado com “Exu Lúcifer”, Beelzebuth (Beelzebub) com “Exu Mor” e Astaroth com “Exu Rei das Sete Encruzilhadas”.
A partir dessa tríade os outros Exus foram associados segundo a demonologia.

“Diabo Maioral, ou Exu Sombra, que só raramente se manifesta no transe ritual. Ele tem como generais: Exu Marabô ou diabo Put Satanaika, Exu Mangueira ou diabo Agalieraps, Exu-Mor ou diabo Belzebu, Exu Rei das Sete Encruzilhadas ou diabo Astaroth, Exu Tranca Rua ou diabo Tarchimache, Exu Veludo ou diabo Sagathana, Exu Tiriri ou diabo Fleuruty, Exu dos Rios ou diabo Nesbiros e Exu Calunga ou diabo Syrach. Sob as ordens destes e comandando outros mais estão: Exu Ventania ou diabo Baechard, Exu Quebra Galho ou diabo Frismost, Exu das Sete Cruzes ou diabo Merifild, Exu Tronqueira ou diabo Clistheret, Exu das Sete Poeiras ou diabo Silcharde, Exu Gira Mundo ou diabo Segal, Exu das Matas ou diabo Hicpacth, Exu das Pedras ou diabo Humots, Exu dos Cemitérios ou diabo Frucissière, Exu Morcego ou diabo Guland, Exu das Sete Portas ou diabo Sugat, Exu da Pedra Negra ou diabo Claunech, Exu da Capa Preta ou diabo Musigin, Exu Marabá ou diabo Huictogaras, e Exu-Mulher, Exu Pombagira, simplesmente Pombagira ou diabo Klepoth. Mas há também os exus que trabalham sob as ordens do orixá Omulu, o senhor dos cemitérios, e seus ajudantes Exu Caveira ou diabo Sergulath e Exu da Meia-Noite ou diabo Hael, cujos nomes mais conhecidos são Exu Tata Caveira (Proculo), Exu Brasa (Haristum) Exu Mirim (Serguth), Exu Pemba (Brulefer) e Exu Pagão ou diabo Bucons.” (Exú, Aloísio Fontennelle, editora espiritualista, 1952.)

Aqui vemos Maioral como Exu Sombra. Lamentavelmente, durante anos as pessoas foram submetidas ao erro umbandista e por isso a Quimbanda é vista de forma jocosa por muitos magistas, até porque, os tradicionalistas procuraram inventar as mais insanas teorias que justifiquem essa tabela, mas aos olhos do verdadeiro “Povo de Exu” essas explicações não figuram a VERDADE alguma.
Antes de qualquer coisa devemos entender que a palavra “Maioral” significa: Comandante, supremo, a inteligência, o maior, o “cabeça”, aquele a quem se delegou maior autoridade para guardar um exército. Todas as definições estão corretas, porém, se destaca a última: “Aquele a quem se delegou maior autoridade...”.

A partir desse ponto começaremos traçar alguns caminhos para que os adeptos comecem compreender o mistério que reside nessa palavra. O primeiro ponto que citaremos é: Maioral é Satanás.
Apesar da Bíblia ser o livro mais controverso que a humanidade teve acesso, usaremos um versículo para traçarmos nosso pensamento:

“O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada Diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados à terra. Apocalipse 12:9”

O primeiro ponto que gostaríamos de estabelecer é que mesmo sendo uma fonte duvidosa, essa passagem deve ser levada em consideração sob alguns aspectos. Satanás é uma forma Draconiana, ou seja, um Grande Dragão que, segundo os escritos bíblicos, foi enviado para a Terra e caiu nela como um raio. A natureza do Dragão é destrutiva e contraditória, uma força de embate constante às estruturas limitadas que existem no Cosmos. Satanás é uma forma nominal que usamos para ressaltar qualidades importantes, muito diferente da concepção estática que as religiões costumam adotar. A essência de Satanás é transcendente e jamais poderá ser nomeada, porém, a mente humana é limitada e ao usarmos palavras e símbolos captamos determinadas situações com mais facilidade.

Nossa Tradição entende que a força que nomeamos como Satanás representa o primogênito filho da Luz Negra e a força que concede aos homens o caminho para a auto-divindade, através do despertar da fagulha interior, separando os eleitos das massas inertes compostas de homens de barro (estáticos, inertes). É o grande opositor, o inimigo do “Falso-Deus”. Pensando dessa forma entendemos que Satanás é um Grande Dragão que representa o maior de todos os Filhos, ou seja, o Maioral. Satanás representa o Primeiro Trono (Sul) e a essência espiritual do Fogo.

Como sempre é dito pelo nosso grupo, nossa gnose é particular. Se entendemos Satanás como expressão máxima da palavra Maioral, como comparar o Exu Sombra com tais atributos? Ou como comparar qualquer Exu com tais atributos? Seria no mínimo uma comparação vazia e feita por aqueles que jamais tiveram contato com essa força.

Antes da Quimbanda vir a existir como religião já existia o embate entre as forças libertadoras (regidas por Satanás e outros Seres) e forças aprisionadoras (regidas pelo Falso-Deus). Que Satanás é a expressão máxima de Maioral é incontestável, porém, esse substantivo também é usado para nomear o Imperador da Quimbanda. Para não causar confusões vamos a definição da palavra “imperador”:

“Governante de um império, ou de um grupo de nações ou Estados. Um rei geralmente governa apenas uma área ou um povo, mas um imperador governa vários.” (dicionário online).

Portanto fica claro que Maioral na Quimbanda é um Imperador, ou seja, um Ser que comanda todas as áreas, chamadas por nós de “Sete Reinos”. Ele está acima de todos os Reis e Rainhas e governa todo espaço astral destinado à Quimbanda. Satanás não é uma força estática e dizemos que também não está inserida na totalidade do Cosmos. Essa força emana incessantemente para dentro da Criação Causal a fim de gerar as mudanças e programar as rupturas que causarão a falência e a destruição do Sistema vigente. É como um poderoso vórtice energético que direciona o fogo no aspecto destruidor e no aspecto edificador. Entendemos que o aspecto libertador e direcionador denomine-se Lúcifer.
Essa concepção pode confundir os adeptos que ainda não tiveram contato com nossa gnose, pois entendemos que Satanás e Lúcifer tratem-se da mesma energia, ou seja, são dois nomes que correspondem dois aspectos da mesma força.
Se atentarmos em outro aspecto bíblico, veremos que não existiu “queda” de anjo algum e sim o lançamento de forças.

“Eu via Satanás, como raio, cair do céu.” Lucas 10:18

O profeta do Falso Deus não viu queda alguma, apenas teve uma visão de como as forças “Além-Cosmos” estavam se infiltrando na Criação Material. O raio simboliza a chama de Satanás conduzindo as fagulhas energéticas para a Terra a fim de despertar e gerar os Seres que promoveriam o embate nos campos astrais.

O Imperador Maioral da Quimbanda foi um desses seres. O raio de Satanás não trazia apenas a força do fogo. Junto com o fogo veio a fagulha do ar de Beelzebuth, da água de Leviathan e da terra de Belial. Esse conjunto de forças supremas, somados às forças elementares puras e desprovidas de manipulação caíram na Terra, imantaram o veneno e formaram os Imperadores. Esses seres são perturbadores da ordem cósmica, pois possuem toda gnose revelada. São guerreiros estrategistas capazes de erguer entraves, se infiltrarem, corromperem, libertarem ou escravizarem em prol da Grande Causa.

O Imperador recebeu o nome de Maioral em razão de representar uma força satânica e principalmente por esse nome já estar difundido dentro do território que seria o útero para a religião vindoura. Os próprios Exus e Pombagiras, em certos casos, referiam-se a um Ser Maior o qual deveriam prestar reverência. Esse Ser é Maioral. O primeiro grimórium que trouxe esse nome foi o “Livro de São Cipriano – Capa Preta” (hoje largamente difundido) que possui a citação desse nome.

“...Assim como Caifás, Satanás, Ferrabrás e o Maioral do Inferno, que fazem todos dominar, fazei (Nome do Fulano(a) desejado) se dominar, para me trazer cordeiro, preso debaixo do meu pé esquerdo...” (Oração da Cabra Preta)

Existem cultos de Quimbanda que louvam Maioral referindo-se a Lúcifer, mas a grande massa não compreende que Lúcifer e Satanás representam Deuses/Poderes que possuem a mesma essência. Enquanto Lúcifer representa o despertar e a evolução dos adeptos que estão em harmonia com a busca pela Sabedoria Obscura, Satanás é a ação e reação contra as raízes do “Falso-Deus”. Ambos são adversários do ordenamento, antíteses da mentira e combatentes do “Falso Deus”.

Maioral habita nos quatro corpos dos homens:
Corpo físico - terra;
Corpo Astral - água;
Corpo mental - ar;
Corpo espiritual - fogo.

Estes quatro corpos estão relacionados com os quatro deuses demonizados:
Corpo Físico - Belial - Destruidor dos grilhões físicos;
Corpo Astral - Leviathan - Abolicionista das formas astrais;
Corpo Mental - Beelzebuth - O libertador dos pensamentos;
Corpo Espiritual - Lúcifer - O portador da sabedoria.

Seu poder está direcionado para as quatro direções:
Norte - Terra
Oeste - Água
Leste - Ar
Sul - Fogo

Nossa Tradição adotou um símbolo esotérico para retratar Maioral (Pentagrama de Maioral). Nesse símbolo temos alguns elementos que explicam a formação e a ação do Imperador.

Os garfos representam as fagulhas vindas dos quatro Grandes Deuses Negros. Além disso, demonstram o poder de agir de forma dinâmica e receptiva. São símbolos de força, domínio, conquista.

O círculo que está na ponta do símbolo demonstra que Maioral é Divindade e que está em constante estado de evolução e movimento. Isso demonstra que os Reis e Rainhas da Quimbanda devem manter e expandir os Reinos e domínios.

As raízes indicam: Infiltração, Conquista e Morte.

A Lua Crescente demonstra o contínuo estado de crescimento e evolução. Demonstra também que os adeptos devem atentar não apenas para a teoria, mas para a parte prática. Essa prática é a mudança de comportamento interno e externo que deve estar sintonizado com as emanações.

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Os textos aqui reunidos são em sua grande maioria recolhidos de outros blogs e devidamente citados ao final de cada post,são para meu aprendizado, leio e aprendo sempre mais com este textos, e mesmo que não compartilhe da mesma crença ou concorde com as opiniões de seus escritores considero útil conhecer outras formas de cultos e doutrinas. ==== Paulo Araújo ====

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