Entre
os séculos XIV e XVIII, a Igreja Católica (I.C.A.R) exercia o papel de
Estado e todas as formas e expressões religiosas contrárias ao
catolicismo eram consideradas inimigas. Nesse momento histórico temos a
ação direta de uma corrente denominada “Santa Inquisição”. Não vamos nos
aprofundar nas ações que sucederam nesse período, haja vista que todos
os estudantes devem ter uma compreensão mínima acerca desse assunto, mas
foi uma época onde ocorreram perseguições e mortes a todos que portavam
livros denominados “Grimoriuns” ou “Livros de Encantamentos”.
Destacam-se os seguintes livros:
-
“Grimorium Verum” (Grimório da Verdade);
-
“Clavícula de Salomão”;
-
“Grand GrimoriuManual do Papa Leão” (“Enchiridion Leonis Papae”).
Esses
livros fundamentavam a supremacia de Deus, Cristo e dos Santos sobre
todas as outras formas espirituais. Nelas destacavam-se as diversas
formas de evocar e banir espíritos demoníacos, bem como compreender suas
supostas naturezas. Entretanto, mesmo quando o poder do Deus cristão
era exaltado sobre as forças demoníacas, os atos de magia cerimonial não
eram tolerados pelo clero católico.
Provavelmente,
parte dessa carga literária “amaldiçoada” aportou nas terras
brasileiras em meados do século XVI. Vindos escondidos através dos
padres catequizadores e senhores da alta classe Portuguesa (e
Espanhola), tais livros foram instrumentos de manipulação. Os povos
nativos, os negros escravizados e os colonizadores receberam até o fim
do século XVIII a educação religiosa que abordava as facetas do “Diabo
Cristão e suas Hostes” apontada nessas obras de demonologia. Dessa
forma, ficou assentado no consciente coletivo (através das piores
maneiras) tais informações, além das já enraizadas como a luxúria,
maldade, danação e sexo. Os livros inquisitórios eram os aceitos para
conduzir os processos de reconhecimento e julgamento dos praticantes de
magia. Destacamos a presença do famigerado “Malleus Maleficarum” (O
Martelo das Bruxas).
Os
grimoriuns traziam em seus conteúdos hierarquias espirituais
demoníacas. Para o enredo formador da Quimbanda, o “Grimorium Verum” foi
o livro mais ativo, pois a “Triade Negra” descrita (Lúcifer, Beelzebuth
e Astaroth) foi adotada como a “Trindade do Oposto” e logo tornou-se
referência dentro do culto ao ponto de relacionarem Exus com os demônios
listados nessa obra, ou seja, os conceitos deturbados pela crendice
medieval foram inseridos na Quimbanda fazendo com que as pessoas
cultuassem antigas forças de forma deformada e inconsequente. Lúcifer
foi correlacionado com “Exu Lúcifer”, Beelzebuth (Beelzebub) com “Exu
Mor” e Astaroth com “Exu Rei das Sete Encruzilhadas”.
A partir dessa tríade os outros Exus foram associados segundo a demonologia.
“Diabo
Maioral, ou Exu Sombra, que só raramente se manifesta no transe ritual.
Ele tem como generais: Exu Marabô ou diabo Put Satanaika, Exu Mangueira
ou diabo Agalieraps, Exu-Mor ou diabo Belzebu, Exu Rei das Sete
Encruzilhadas ou diabo Astaroth, Exu Tranca Rua ou diabo Tarchimache,
Exu Veludo ou diabo Sagathana, Exu Tiriri ou diabo Fleuruty, Exu dos
Rios ou diabo Nesbiros e Exu Calunga ou diabo Syrach. Sob as ordens
destes e comandando outros mais estão: Exu Ventania ou diabo Baechard,
Exu Quebra Galho ou diabo Frismost, Exu das Sete Cruzes ou diabo
Merifild, Exu Tronqueira ou diabo Clistheret, Exu das Sete Poeiras ou
diabo Silcharde, Exu Gira Mundo ou diabo Segal, Exu das Matas ou diabo
Hicpacth, Exu das Pedras ou diabo Humots, Exu dos Cemitérios ou diabo
Frucissière, Exu Morcego ou diabo Guland, Exu das Sete Portas ou diabo
Sugat, Exu da Pedra Negra ou diabo Claunech, Exu da Capa Preta ou diabo
Musigin, Exu Marabá ou diabo Huictogaras, e Exu-Mulher, Exu Pombagira,
simplesmente Pombagira ou diabo Klepoth. Mas há também os exus que
trabalham sob as ordens do orixá Omulu, o senhor dos cemitérios, e seus
ajudantes Exu Caveira ou diabo Sergulath e Exu da Meia-Noite ou diabo
Hael, cujos nomes mais conhecidos são Exu Tata Caveira (Proculo), Exu
Brasa (Haristum) Exu Mirim (Serguth), Exu Pemba (Brulefer) e Exu Pagão
ou diabo Bucons.” (Exú, Aloísio Fontennelle, editora espiritualista,
1952.)
Aqui
vemos Maioral como Exu Sombra. Lamentavelmente, durante anos as pessoas
foram submetidas ao erro umbandista e por isso a Quimbanda é vista de
forma jocosa por muitos magistas, até porque, os tradicionalistas
procuraram inventar as mais insanas teorias que justifiquem essa tabela,
mas aos olhos do verdadeiro “Povo de Exu” essas explicações não figuram
a VERDADE alguma.
Antes
de qualquer coisa devemos entender que a palavra “Maioral” significa:
Comandante, supremo, a inteligência, o maior, o “cabeça”, aquele a quem
se delegou maior autoridade para guardar um exército. Todas as
definições estão corretas, porém, se destaca a última: “Aquele a quem se
delegou maior autoridade...”.
A
partir desse ponto começaremos traçar alguns caminhos para que os
adeptos comecem compreender o mistério que reside nessa palavra. O
primeiro ponto que citaremos é: Maioral é Satanás.
Apesar
da Bíblia ser o livro mais controverso que a humanidade teve acesso,
usaremos um versículo para traçarmos nosso pensamento:
“O
grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada Diabo
ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados à
terra. Apocalipse 12:9”
O
primeiro ponto que gostaríamos de estabelecer é que mesmo sendo uma
fonte duvidosa, essa passagem deve ser levada em consideração sob alguns
aspectos. Satanás é uma forma Draconiana, ou seja, um Grande Dragão
que, segundo os escritos bíblicos, foi enviado para a Terra e caiu nela
como um raio. A natureza do Dragão é destrutiva e contraditória, uma
força de embate constante às estruturas limitadas que existem no Cosmos.
Satanás é uma forma nominal que usamos para ressaltar qualidades
importantes, muito diferente da concepção estática que as religiões
costumam adotar. A essência de Satanás é transcendente e jamais poderá
ser nomeada, porém, a mente humana é limitada e ao usarmos palavras e
símbolos captamos determinadas situações com mais facilidade.
Nossa
Tradição entende que a força que nomeamos como Satanás representa o
primogênito filho da Luz Negra e a força que concede aos homens o
caminho para a auto-divindade, através do despertar da fagulha interior,
separando os eleitos das massas inertes compostas de homens de barro
(estáticos, inertes). É o grande opositor, o inimigo do “Falso-Deus”.
Pensando dessa forma entendemos que Satanás é um Grande Dragão que
representa o maior de todos os Filhos, ou seja, o Maioral. Satanás
representa o Primeiro Trono (Sul) e a essência espiritual do Fogo.
Como
sempre é dito pelo nosso grupo, nossa gnose é particular. Se entendemos
Satanás como expressão máxima da palavra Maioral, como comparar o Exu
Sombra com tais atributos? Ou como comparar qualquer Exu com tais
atributos? Seria no mínimo uma comparação vazia e feita por aqueles que
jamais tiveram contato com essa força.
Antes
da Quimbanda vir a existir como religião já existia o embate entre as
forças libertadoras (regidas por Satanás e outros Seres) e forças
aprisionadoras (regidas pelo Falso-Deus). Que Satanás é a expressão
máxima de Maioral é incontestável, porém, esse substantivo também é
usado para nomear o Imperador da Quimbanda. Para não causar confusões
vamos a definição da palavra “imperador”:
“Governante
de um império, ou de um grupo de nações ou Estados. Um rei geralmente
governa apenas uma área ou um povo, mas um imperador governa
vários.” (dicionário online).
Portanto
fica claro que Maioral na Quimbanda é um Imperador, ou seja, um Ser que
comanda todas as áreas, chamadas por nós de “Sete Reinos”. Ele está
acima de todos os Reis e Rainhas e governa todo espaço astral destinado à
Quimbanda. Satanás não é uma força estática e dizemos que também não
está inserida na totalidade do Cosmos. Essa força emana incessantemente
para dentro da Criação Causal a fim de gerar as mudanças e programar as
rupturas que causarão a falência e a destruição do Sistema vigente. É
como um poderoso vórtice energético que direciona o fogo no aspecto
destruidor e no aspecto edificador. Entendemos que o aspecto libertador e
direcionador denomine-se Lúcifer.
Essa
concepção pode confundir os adeptos que ainda não tiveram contato com
nossa gnose, pois entendemos que Satanás e Lúcifer tratem-se da mesma
energia, ou seja, são dois nomes que correspondem dois aspectos da mesma
força.
Se atentarmos em outro aspecto bíblico, veremos que não existiu “queda” de anjo algum e sim o lançamento de forças.
“Eu via Satanás, como raio, cair do céu.” Lucas 10:18
O
profeta do Falso Deus não viu queda alguma, apenas teve uma visão de
como as forças “Além-Cosmos” estavam se infiltrando na Criação Material.
O raio simboliza a chama de Satanás conduzindo as fagulhas energéticas
para a Terra a fim de despertar e gerar os Seres que promoveriam o
embate nos campos astrais.
O
Imperador Maioral da Quimbanda foi um desses seres. O raio de Satanás
não trazia apenas a força do fogo. Junto com o fogo veio a fagulha do ar
de Beelzebuth, da água de Leviathan e da terra de Belial. Esse conjunto
de forças supremas, somados às forças elementares puras e desprovidas
de manipulação caíram na Terra, imantaram o veneno e formaram os
Imperadores. Esses seres são perturbadores da ordem cósmica, pois
possuem toda gnose revelada. São guerreiros estrategistas capazes de
erguer entraves, se infiltrarem, corromperem, libertarem ou escravizarem
em prol da Grande Causa.
O
Imperador recebeu o nome de Maioral em razão de representar uma força
satânica e principalmente por esse nome já estar difundido dentro do
território que seria o útero para a religião vindoura. Os próprios Exus e
Pombagiras, em certos casos, referiam-se a um Ser Maior o qual deveriam
prestar reverência. Esse Ser é Maioral. O primeiro grimórium que trouxe
esse nome foi o “Livro de São Cipriano – Capa Preta” (hoje largamente
difundido) que possui a citação desse nome.
“...Assim
como Caifás, Satanás, Ferrabrás e o Maioral do Inferno, que fazem todos
dominar, fazei (Nome do Fulano(a) desejado) se dominar, para me trazer
cordeiro, preso debaixo do meu pé esquerdo...” (Oração da Cabra Preta)
Existem
cultos de Quimbanda que louvam Maioral referindo-se a Lúcifer, mas a
grande massa não compreende que Lúcifer e Satanás representam
Deuses/Poderes que possuem a mesma essência. Enquanto Lúcifer representa
o despertar e a evolução dos adeptos que estão em harmonia com a busca
pela Sabedoria Obscura, Satanás é a ação e reação contra as raízes do
“Falso-Deus”. Ambos são adversários do ordenamento, antíteses da mentira
e combatentes do “Falso Deus”.
Maioral habita nos quatro corpos dos homens:
Corpo físico - terra;
Corpo Astral - água;
Corpo mental - ar;
Corpo espiritual - fogo.
Estes quatro corpos estão relacionados com os quatro deuses demonizados:
Corpo Físico - Belial - Destruidor dos grilhões físicos;
Corpo Astral - Leviathan - Abolicionista das formas astrais;
Corpo Mental - Beelzebuth - O libertador dos pensamentos;
Corpo Espiritual - Lúcifer - O portador da sabedoria.
Seu poder está direcionado para as quatro direções:
Norte - Terra
Oeste - Água
Leste - Ar
Sul - Fogo
Nossa
Tradição adotou um símbolo esotérico para retratar Maioral (Pentagrama
de Maioral). Nesse símbolo temos alguns elementos que explicam a
formação e a ação do Imperador.
Os
garfos representam as fagulhas vindas dos quatro Grandes Deuses Negros.
Além disso, demonstram o poder de agir de forma dinâmica e receptiva.
São símbolos de força, domínio, conquista.
O
círculo que está na ponta do símbolo demonstra que Maioral é Divindade e
que está em constante estado de evolução e movimento. Isso demonstra
que os Reis e Rainhas da Quimbanda devem manter e expandir os Reinos e
domínios.
As raízes indicam: Infiltração, Conquista e Morte.
A
Lua Crescente demonstra o contínuo estado de crescimento e evolução.
Demonstra também que os adeptos devem atentar não apenas para a teoria,
mas para a parte prática. Essa prática é a mudança de comportamento
interno e externo que deve estar sintonizado com as emanações.
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